Engenharia Maia construía barragens que são exemplo de sustentabilidade
Publicado Quarta-feira, 18 de Julho de 2012 | Por: Jornal de Arqueologia
Recentes escavações realizadas na antiga cidade maia de Tikal revelam o maior complexo de armazenamento de água da América pré-colombiana.
Foto: Universidade de Cincinnati |
O sistema, considerado como um exemplo de sustentabilidade pelos arqueólogos, garantiu que a população sobrevivesse às mudanças climáticas que se operaram naquele local há cerca de1.200 anos.
A investigação foi conduzida por uma equipa multi-universitária liderada pela Universidade de Cincinnati na cidade pré-colombiana de Tikal, um centro urbano primordial dos antigos Maias, tendo sido identificados elementos relacionados com o ancestral paisagismo e obras de engenharia, incluindo a descoberta da maior barragem antiga construído pelos maias da América Central.
A barragem construída em pedra e terra atingiu um comprimento superior a 260 metros e uma altura de 33 metros, possuía 10 reservatórios artificiais que recolhiam a água da chuva, e três represas, entre elas, a maior já vista em construções Maias, com uma capacidade de armazenamento superior a 74 milhões de litros de água.
Este sistema possuía na sua totalidade nove quilómetros quadrados e permitia o abastecimento de água a uma das maiores cidades construídas pelos Maias, que no seu apogeu chegou a atingir uma população superior aos 80 mil habitantes, sensivelmente no ano 700 d.C.
Estes resultados sobre a gestão da água feita pelos Maias , bem como o sistema de uso da terra, surgem publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences ( PNAS ) num artigo intitulado "Water and Sustainable Land Use at the Ancient Tropical City of Tikal, Guatemala. Esta investigação lança nova luz sobre como os Maias conservavam e utilizavam os seus recursos naturais para sustentar uma sociedade altamente populosa que enfrentava um processo de mudanças climáticas coincidentes com longos períodos de estiagem.
O artigo é coordenado por Vernon Scarborough, da Universidade de Cincinnati, Estados Unidos, e nele participaram investigadores especializados em diversas áreas como Dunning Nicholas, Kenneth Tankersley, Carr Christopher, Weaver Eric, Liwy Grazioso, Brian Lane, John Jones, Buttles Palma, Fred Valdez e David Lentz.
Segundo a Scarborough , "o objetivo geral da pesquisa liderada pela Universidade de Cincinnati é para entender melhor como os antigos Maias faziam face ás necessidade da população de Tikal que rondaria entre 60.000 a e 80.000 habitantes em 700 dCâ€.
A sua engenharia permitiu que uma sociedade populosa altamente complexa conseguisse sobreviver por mais de 1.500 anos numa ecologia tropical caracterizada por períodos bem marcados de chuva e seca, que podiam durar até metade do ano, com uma geologia calcária que é naturalmente porosa e que dificultava a cumulação de água. Neste cenário as necessidades de recursos deste povo foram grandes, e para supri-las os Maias usaram apenas ferramentas e tecnologia rudimentar, embora tivessem desenvolvido um sofisticado sistema de gestão da água.
A recolha e o armazenamento de água foi um dos grande problemas num ambiente onde a chuva caía de forma muito sazonal e as secas eram comuns. A água e a sua gestão passou a ser uma questão central da administração deste povo, facto que se traduziu nos mais variados domínios, como, por exemplo, a arquitetura.
Em Tikal toda a água que caía das nuvens era literalmente recolhida a partir das amplas ruas e praças pavimentadas da cidade, projetadas para tal efeito. A partir daqui a água era conduzida através de canais para reservatórios onde era acumulada e criteriosamente gerida. Estes reservatórios, por sua vez, estavam equipados com sistemas de tratamento natural. Os arqueólogos descobriram um tanque profundo para decantação da água e na entrada de todos eles existia uma caixa com areia que provavelmente era usada como filtro para purificar a água.
“O que encontramos é um surpreendente sistema de água que se desenvolveu pelas necessidades que foram surgindo ao longo do tempo. Apesar do crescimento da população, das mudanças climáticas e das erupções vulcânicas, que mesmo a quilómetros de distância depositavam cinzas em Tikal, os Maias ainda eram capazes de sustentar um sistema complexo e sofisticado de coleta e armazenamento de águaâ€, sublinha Vernon Scarborough.
Segundo o investigador, a importância deste estudo reside nas “potenciais lições†que podem ser extraídas do processo que era utilizado em Tikal, que a partir de uma adequada e sustentável gestão da água, conseguiu manter a coesão de um sociedade altamente complexa.
"A Gestão da água neste contexto antigo pode ser encarada como pouco relevante, mas não deixará de se configurar como um exemplo de sustentabilidade nos dias de hoje. Apesar da falta de sofisticação tecnológica dos Maias, o seu exemplo pode ser aplicado em muitas áreas do mundo atual, sobretudo nos locais onde é necessário o acesso a fontes potáveis devido à alta carga de doenças infecciosas derivadas de sistemas de abastecimento de água não filtrada, muito comuns em climas tropicais . Os antigos Maias, apesar das suas limitações tecnológicas, se comparadas com as que existem nos dias de hoje, conseguiram desenvolver um sistema de captação de águas pluviais inteligente baseado em grandes e pequenos reservatórios que através de sistemas simples e acessíveis permitiam a potabilidade do precioso líquido. Talvez neste aspeto o passado possa dar-nos uma lição sobretudo se este exemplo for transportado e aplicado no presente. Basta que para isso também nós sejamos inteligentesâ€, disse Vernon Scarborough.
Fontes: Universidade de Cincinnati;phys.org
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